Eu não sei se sinto muito.
Esse orgulho todo me engasga. Mas não posso pedir desculpas, porque tenho uma consciência limpa. Eu não quero me deitar na sua poça de lama para você pisar em mim e pensar que tem razão, atravessando esse caminho tranquilamente.
Mas eu quero admitir que isso seria tão mais fácil.
Às vezes eu sonho com você e toda essa dor que você me causa. Sonho com você me pedindo socorro, implorando uma ajuda que eu não sei como dar. E logo em seguida me espanca e ri como um demônio.
Talvez porque nosso relacionamento seja como o inferno.
Talvez porque nosso relacionamento seja como o inferno pra quem não acredita: não existe (mais).
Já sei que não quero dizer que sinto muito, porque eu não sinto. Eu faria novamente igual. E eu sei que essa situação vai mudar, uma hora, em um mês ou em dez anos. Mas a tortura desse tempo lento, dessa falta de notícia, desse afastamento - que eu sinto que será permanente se eu não correr atrás - é dessas coisas que a gente não é feito pra aguentar.
Foi engraçado você pensando que minha risada era deboche. Não era. Era choro.
Cômico mesmo foi você me pedindo para ter mais amor-próprio. Estou tendo. Tentando. Em defesa: tenho meu direito de raiva.
Não há reação outra para pessoas do seu tipo. Pessoas que espancam pelas costas. Que esquecem tudo o que já passou em função de um fator só.
(fator medíocre, diga-se de passagem)
Você pode mostrar tudo isso pra ele. Talvez não vá porque eu disse que podia, mas consigo até imaginar o sangue fervendo nos olhos dele. Posso imaginar a mão no seu ombro. Um consolo. Um beijo na testa. Um lobo vestido de cordeiro, um cordeiro sendo acariciado.
Você não sabe, mas ele fez tanta coisa que eu não cheguei a te dizer porque sei que nada acrescentaria. Ele é esperto, sabe esconder bem, como escondeu antes. E você sabe acreditar.
Você sabe me desacreditar também. Não sei em que ponto eu perdi todos meus créditos. Ainda bem que eu sei que eu sou uma monstra, foi o que você disse. Porque você é uma babaca mesmo. Mas eu ainda me importo, até essa data, até este horário, eu me importo. Talvez até uma semana daqui para frente, até eu me acostumar a não ver sua foto pequenina no feed de notícias. Até eu, em deslize, comentar algo que vivi com você.
Acho que meu desejo no final era ter a última palavra. Por isso eu escrevi aqui, nesse deserto, porque ai você não pode me procurar. Não faço mais parte da sua lista de interesses e nem este site. Aqui eu posso fingir que você vai ler tudo isso e se importar, nem que seja um pouco. Um pouco porque leu até o final, porque pensou em comentar - mas não o fez porque só o que te invade na hora de fazê-lo é angústia. Como o que eu sinto agora. Não me arrependo de nada que fiz. Faria tudo o mesmo, até se soubesse que um dia no futuro todos os meus conselhos seriam desacreditados, que minha palavra não teria valor e que eu não seria ninguém pra você. Não porque sou superior, nem cínica. Mas por que sou babaca também. E não sei se é tão bom saber disso.

Ainda bem que você sabe.

Ainda bem que você sabe. Ainda bem que você sabe que é um monstro. Você não vale nada. Você nunca valeu. E é por isso que eu prefiro o nada à você.
Ainda bem que você sabe quais são os seus defeitos, que você só me quer infeliz. Ainda bem que você sabe que você nunca foi boa pra mim.
Ainda bem que você sabe. Porque eu sou só uma menina babaca. Agora eu quero que você corra e aja como eu penso que você age, como uma difamadora, enquanto eu continuo esquecendo aquela noite na casa do soan. Enquanto eu continuo esquecendo quando eu dormia com você e compartilhava meus segredos até às seis da manhã, e você também compartilhava os seus. Enquanto eu continuo esquecendo que você era quem me escutava, e mesmo brigando, me abrigava. Ou tentava. Mas você é uma mentira.
Ainda bem que você sabe e eu sinto muito porque tudo é culpa sua, mas eu não sinto ódio. Eu sinto tristeza, mesmo que eu tenha te afastado. Mesmo que eu tenha dessa vez preferido te excluir da minha vida pra viver em torno de uma outra pessoa, desconhecida. Ela não é monstro. Você sim, há quatro anos.
Você foi um monstro todo tempo. Você não tem o direito de me odiar. Você não tem direito de lamentar sobre mim. Você não tem direito nem mesmo aos tweets.
Você não pode mais sequer pensar que eu vou guardar algum segredo seu. Você não pode esperar mais nada de mim. Você só precisa dos meus recados prontos. Minha compaixão (porque é o que os tolos recebem) e esse texto, vestido de indiferença.
Porque você não é ninguém.

(Faz uma reverência breve e tira o chapéu. "Valeu. Falôs.")

Como eu odeio quando me dizem que eu faço tudo por você.
Não todas as coisas por você, de fato, mas todas as coisas da minha vida. Como se eu fizesse tudo o que eu realmente faço (até as coisas que faço por mim mesma) com o objetivo final de te atingir. Mas não é verdade.
A lua pode precisar de um sol ou agir como satélite.
A lua pode ser pouca coisa, quando está só.
Mas ela ainda é algo.
Eu ainda tenho meus próprios buracos que vieram antes de você. Meus próprios vícios de rotação que vieram antes de você. Minhas próprias fases. E às vezes eu até te influencio, como as marés.
Como aquele ditado do abismo que te olha de volta.
Mas as pessoas - inclusive eu, vez ou outra - tem essa mania de unilateralidade à qualquer custo. Românticos nunca são somente românticos, são servos do seus amados. Como se o amor fosse uma relação onde  um selvagem precisa ser domado e quando domado será seu piso de banheiro mais bonito. O lugar onde você seca os pés. Os porquinhos quentinhos da rainha vermelha.
Essas pressões externas me sufocam. Tudo isso que todo mundo pensa sobre namoros e obrigações, elas não cabem em mim ou em você. Mas eu queria reconhecimento, eu acho. Talvez com isso todos parassem de nos colocar nessas garrafas, nesses pratos feitos sobre o amor. As pessoas no final das contas fazem um juízo feio sobre isso porque são todas tolas, pensando em servidão, em obrigações.
Eu faço tudo por você, mesmo, mas não como uma serva que apanha.
Você se moldou aos meus defeitos também. Às minhas crateras.
Dessa forma fazemos, em conjunto, nossas coisas por nós mesmos.
Como o amor pede, não o resto do mundo.
Como eu quero.
A decepção é cortante. Uma parede de facas afiadas se fechando a sua volta. Pessoas queridas tem essa mania de nos meter em lugares torturantes, como este. Parece até que não aceitam sua patente alta conosco, então fazem questão de decepcionar mais do que o restante, até o ponto em que o perdão ou o esquecimento já não é possível. Transformam-se em sombra e toda essa tristeza vai para o fundo da memória até que, com uns quarenta anos, você vai lembrar “Ah, aquela festa na casa daquele amigo.. e aquela sua amiga com nome francês? Tão próxima”. Você vai pigarrear, fingir que não lembra – talvez seu nome seja Ana ou algum outro muito diferente – e mudar de assunto. Mas quando estiver só, o dossiê de tudo aquilo que foi feito e dito vai surgir bem em frente dos seus olhos e você vai poder avaliar tudo com muita clareza e se perguntar como você acabou com quarenta anos se lembrando dela. A decepção é uma faca que nunca desafia e fica na espreita em busca de lugares frágeis como esse dia daqui a muitos anos. Pessoas queridas nunca perdem sua patente, mesmo que tentem. Elas só se perdem de você.                

 é agora viu é agora você vai ter que escolher e dar esse passo gigantesco que é o futuro se afunilando e abrindo ao mesmo tempo mas o mal e...