Meu, meu, eu.
Sua, você, e eu.
Sempre próximos, nunca juntos.
Só teu e meu, nunca nosso.
Não por falta de querer.
Se alguma vez me abandonastes,
não foi um abandono.
Se um dia realmente me amastes,
nunca foi pouco romântico.
Mesmo assim, nunca houve "nós",
só houve "nós dois", distintos, separados,
escapando, correndo, no nosso tempo,
deixando esse mundo de lado,
esquecedo de tudo, tudo para depois.

Quase.

"Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.

Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu."

Sarah Westphal.

Como são seus rins?

Por mais que eu fosse contra aquilo, eu tinha me apaixonado pela sua imagem: pela sua voz, o jeito como pegava no violão, e o jeito que cantava, ali, pra multidão da galeria. Aquela boina vermelha, a barba por fazer e os tênis velhos. Eu gostei até do seu microfone. Não sabia sobre o seu temperamento, sobre seu gosto, sobre suas ideologias, mas é como se tudo o que você tinha por fora me incitasse a conhecer tudo o que havia por dentro, e essa foi a desculpa final por me apaixonar pelo seu rosto: porque eu fazia questão de conhecer você por dentro. Queria conhecer tudo, até seus rins.
E em outros dias, toda vez que eu queria me concentrar em algo, você me vinha a cabeça. E toda vida que eu tentava pensar em outra coisa, fazia alguma ligação até você. Parecia ilógico, ilegal e imoral pra mim, porque era tão fútil como se apaixonar por alguém que vi na rua, de passagem, ou algum cantor da moda. Mas nada nunca me pareceu tão impossível quanto não cair aos seus pés com toda essa facilidade.

E não sei, até agora, que tipo de tilt deu meu cérebro.

Me ajude. Minha estrela está se apagando, eu estou perdendo o controle. Eu não estaria presa nesse buraco se eu só esperasse, mas eu juro, eu esperei. Não vejo chance pra libertação e sei que estou morta na superfície, mas estou gritando por baixo. Mas parece que isso não lhe causa preocupação... Presa nessa corrente, eu caminho para baixo novamente. Você pode dizer o que você quiser dizer, mas isso não mudará uma coisa: estou doente dos segredos. Você veio e me cortou a liberdade.

(Amsterdam, Coldplay)

Como uma tecnologia muito avançada, eu silenciei. Esqueci que para ter novas palavras preciso gastar todas as antigas, ou paro. Preciso ler ...