Imaginava todos os dias como você estava. Que roupa escolhia, se tomava aquele café ou ainda preferia o chá. Pegava meu telefone e colocava seu número na tela. Não discava, só olhava pra ele ali na tela. O que eu ia dizer? "Me desculpa por toda a falta e falha minha. Toda falta de esforço, de esperança". Acho que isso nem precisava ser dito, você já sabia, já tinha vivido aquilo. Só eu que me dei conta depois, como sempre. Imaginava você saindo de casa, com o fone de ouvido, pegando um ônibus. Cada vez mais embrenhando numa rotina da qual eu não fazia parte. Imaginava você conversando com seus amigos, rindo com outras pessoas, provando de outros braços. Imaginava como eu não devia fazer tanta falta assim. Talvez só um suspirinho ou outro num ócio, um sonho inconveniente, ou talvez nem isso. Não era mais nada. Só um número na chamada, gritando por uma ligação, já sabida que era perdida.

Como uma tecnologia muito avançada, eu silenciei. Esqueci que para ter novas palavras preciso gastar todas as antigas, ou paro. Preciso ler ...