Vivo para o amanhã: o hoje nunca funciona muito bem. O amanhã sempre guarda uma esperança de melhora, um brilho claro, uma luz num túnel longo que não chegou o fim. Sei que no presente estão as oportunidades, as alegrias e todos esses momentos que deixam a vida um pouco melhor. Mas não aqui. Não nesse presente, que parece mais pista de fórmula 1 pro piloto do carro: passa voando, quase não deixa que os pés toquem o chão. Me alimento, então, de ilusão. Ilusão de que amanhã há de ser um novo dia.

"- Por favor, por favor... que seja um dia melhor."
Procurava maneiras alternativas de falar "tanto faz". Tanto fazia mesmo: a dormência conseguiu ultrapassar seus limites mentais e chegar ao corpo. Não sentia mais dor, cansaço, ânimo ou seu antônimo. Tudo o que se passava não surpreendia mais e as surpresas perderam aquele toque de confeite colorido. Surpresa sempre tem confeite colorido, mesmo quando tristes. Mas, pela primeira vez... Respirar, piscar, viver, bombear sangue pro coração: tanto-fazia. Se o mundo rodasse, se a lua estivesse cheia ou minguante.. "Se as estrelas não brilhassem, pela primeira vez, está tudo bem para mim." No mais falso sentido de bem.
"merda".
Apertei os olhos bem miudinhos, como a gente aperta quando vê o sol. Segurei um grande fluxo de lágrimas atrás das pálpebras, mas algumas ainda conseguiram escorregar pra fora. Baixei o rosto e respirei fundo. Tudo acontecendo de novo, num cenário alterado. O vazio dentro e fora nunca fora tão presente. Não que eu me lembre. Mas, ultimamente, não me lembrava de muita coisa, nem fazia questão de lembrar. Tudo passava por mim, ou eu passava rápido demais por tantos lugares e pessoas? Só sei que era rápido. Minha vida tinha sido um borrão em alta velocidade nesses ultimos tempos. O problema é que algumas coisas passavam afiadas, cortando com precisão de Tramontina. E cortava fundo, ardia e as lágrimas conseguiam escapar pelos lados. Merda.
Eu descobri que retenho informação demais. Elas, com vendas em seus olhos, se batem e explodem o tempo inteiro dentro de mim. E assim vai, batida, explosão, alvoroço, sem descanso, na minha área abdominal (e na caixa craniana também. E quem sabe, um pouquinho no coração - se ele ainda estiver vivo, claro). E certamente não é aquele tipo de alvoroço como borboletas no estômago. Socos. São "violentações" internas. Procuro algo dentro de mim, mas outra coisa já a contradiz, parte pra cima e solta um monte de palavrões, tachando a outra de mentirosa. Sou uma roda punk no show de Black Metal. Sou shopping center em época de natal. Sou lanchonete de escola na hora do recreio. Sou uma bagunça por isso: saber demais sobre esses opostos, que nunca vão se atrair...


(desabafo)

Como uma tecnologia muito avançada, eu silenciei. Esqueci que para ter novas palavras preciso gastar todas as antigas, ou paro. Preciso ler ...