Eu poderia escrever mais um poema sobre as curvinhas que excedem a lateral dos teus lábios, sobre a covinha tímida que aparece somente quando te convém, sobre as pontas dos teus dedos tocando minhas costas a exatos dois minutos atrás. Eu poderia e preciso. Interrompido este momento da realidade enquanto te observo dormir para parar de te observar dormir, aproveito pra te escrever qualquer coisa que sinto enquanto eu sinto, ou explodirei. Há alguns dias em que minhas emoções não conseguem rota de fuga nenhuma do meu corpo e se amontoam lá dentro. E quando isso acontece, preciso de você dormindo do meu lado para perfurar-me toda e essas saírem - hoje, em prosa. Poderia ser poema, fotografia, pintura. Beijo sempre é. Mas isso é personificação do meu sentimento quando te passo no exato instante, e todas as artes estarão gravadas para posterioridade quando me disseres "não me ama mais!" nessas brincadeiras que transbordam uma insegurança real, e são aplacadas com uma demonstração ínfima do que sinto - como isso que lhe escrevo agora. Eu te amo, por todos os motivos que me apresenta agora enquanto dorme (seus olhos fechados simétricos em contraste com o cabelo bagunçado, a mão inocentemente segurando sua cabeça e todos os sinais do seu corpo inteiro formando uma constelação viva), e por cada outra coisa que me apresenta quando acordado. Como é racional, sensato e como suas emoções (sempre tão controladas) fogem do seu controle enquanto grita e me assusta. Como é tão inteligente e naturalmente bom, como me olha quando diz que me ama e quando diz que me ama do nada, baixo no meu ouvido, depois de tantos beijos. É uma tentativa vã tentar listar ou descrever tudo em ti que me atrai, porque nenhuma lista seria grande o suficiente ou detalhada o suficiente para me explicar. Mas agora tenho que deixá-lo, voltar para minha realidade, moldar-me em seus braços, descansar contigo até o pouco tempo que me resta e depois, ir embora.
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