Fechei meus olhos enquanto te beijava porque não queria contaminar sua tristeza com a minha.
Mas os seus olhos...
Peço perdão por todas as invasões cometidas até agora. Sempre foi falta de respeito e responsabilidade, mas sabemos que se eu possuísse o freio, cordas e amarras que você possui, eu nunca veria os olhos pegando fogo e a cova rasa (onde eu poderia ser enterrada viva) que aparece ao lado da sua boca quando ri. E isso é importante: eu quero. Peço perdão dessa vez pela ousadia, porque sinto muito que eu invada, mas invado mesmo assim. Talvez eu continue só pra ver onde esse caminho vai me levar. Admitamos que é um caminho solitário, unilateral, quase uma tortura. Você amarrado e eu rindo ao seu redor. Você ri de mim e morre um pouco.
Isso é o que me dói. Não posso ser seu motivo de felicidade. Você precisa das amarras, você precisa desse peso que amarrou nos seus pés pra manter-se são, na linha das responsabilidades que prometeu cumprir. Tão honrado. E eu sou tudo aquilo que você não espera e não alcança: a que voa ao redor, voa longe, voa perto, vai e volta e sorri e chora e se afoga e continua viva. Você é toda doida.
Tempo errado, bad timing, momento terrível. Mas o grande pulo do gato reside que eu posso ir e vir. Todo dia preparada pra te desamarrar e ver você voando comigo, leão e cavalo correndo lado a lado. Sendo meio gente e meio selvageria. Olhando com os olhos bem abertos no seus, de joelhos como uma bênção e um pecado ao mesmo tempo. Sorrindo ao me meter nas covas rasas. Me perdendo por tudo o que você é, de bom e de ruim. Não me importo em pensar assim. Mas me dói um pouquinho.

Como uma tecnologia muito avançada, eu silenciei. Esqueci que para ter novas palavras preciso gastar todas as antigas, ou paro. Preciso ler ...