Última carta

Querido,

Por onde você anda? Porque faz questão de me afogar nessas dúvidas? Tenho tantas perguntas pendentes. Não sabe como é doloroso ter que guardá-las em cartas, escritas durante a madrugada que passo acordada - por você.

Cartas que não são enviadas. Cartas que não são lidas, não são respondidas.

Hoje, meu querido, eu tomei uma decisão. E essa decisão foi realmente importante para mim. Será que importa a você? Será que alguma vez, alguma coisa importou? Escrevo mais uma vez (espero que a última) para que saiba que você não cabe mais em mim. Não pense que deixei de amá-lo, mas meu amor por você cresceu demais, e não cabe no meu coração pequeno. Ao contrário do que dizem, o coração não incha com mais amor, e sim, se torna apertado, como o dia se torna curto quando se há muitos afazeres. Meu amor, o seu amor não cabe mais em mim. Por isso eu resolvi expulsá-lo, a belos pontapés. Fiquei com olhos vermelhos depois de uma briga exaustiva, mas finalmente ele se foi. Foi embora com algumas velharias que guardava e algumas lágrimas. Nunca é bom guardar coisas velhas demais e você sabe disso melhor do que ninguém, já que anda renovando sua vida sempre com novas pessoas, novos lugares. Espero que entenda essa minha decisão, se decidir voltar, porque eu não guardo mais um espaço pra você. Na verdade, pretendo substituí-lo com outros problemas. Os outros serão outros, assim como você passará ser mais um. Você sabe o tanto que eu te amei...


Com um carinho amargo,
da sua amante.

2 comentários:

  1. Nossa! Impactante! Adorei querida! Muito, MUUUUUITO bom!
    As vezes guardamos as cartas porque nem escritas temos coragem de dizer o que se deve ser dito!
    Beijinhos, até breve.

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