Meu olho direito tremeu
a superstição: contentamento iminente.
E assim, como o esperado, aconteceu:
Você me apareceu só prá dizer
"Felicidade Reinará".

O motivo.

Foram para mim
os pensamentos
os suspiros
os planos.
Todos para mim.
Você a beijava e sentia meus lábios,
e conversava comigo no silêncio com tuas melhores respostas.
Eu nunca estive sozinha,
estava logo atrás seguindo teus passos,
estava nos teu olhares rápidos.
Eu estive sempre ao teu lado.
"Eu te dei o meu coração", me dizia
e eu sorria com satisfação.
Me falava coisas fantásticas ao pé do ouvido,
e eu escutava com contentamento.
"eu te doei minha alma...", te respondia.
Então meu sorriso se fez mais largo,
quando te vi caminhando para mim.
Nunca te vi menos distante.
Veio para me acompanhar de vez.
E eu via o teu passado
se afastando mais a cada instante.


ps: esse é o outro lado da superficialidade, se é que não ficou claro.



Superficial.

Não foram para mim
as flores
as mensagens
as surpresas
Não foram para mim.
Cada letra, cada riso.
Cada beijo, o carinho.
Eu estava só quando perto,
estava só quando longe.
Entrelaçava meus dedos no vazio,
e te olhava, tão distante.
Conversava com um piloto automático,
discutia com tuas respostas prontas.
Eu estive sempre ao teu lado,
"eu te doei a minha alma..."
E você me olhava, tão distante.
Te cansava esse teatro,
e se lamentava "é que deu tudo errado!",
você me dizia enquanto eu estava surda,
você me deixou mais sozinha ainda.
E eu vi as tuas costas
se afastando mais a cada instante.

O passado era doce.



            "Você pode destruir as evidências, mas não pode destruir as memórias."

Eu procurava paz no que restava de nós dois: as fotos, as cartas. Mesmo que essa paz fosse temporária. Sentia o gosto das nossas promessas, como se estivesse de volta ao momento, vendo todos aqueles erros cometidos sendo cobertos de amor.  E quando as mensagens eram decoradas e as imagens começavam a se repetir como um show de slides na minha frente, com os meus olhos fechados, eu me sentia antiga. Como se tudo aquilo tivesse acontecido a muito tempo atrás, como se fosse um romance do século XIX. E a protagonista desse amor de perdição, onde tudo era tão proibido quanto fora para Camilo Castelo Branco, era eu. Eu acabei morta por dentro, enquanto você afundava no mar do meu esquecimento.

Como uma tecnologia muito avançada, eu silenciei. Esqueci que para ter novas palavras preciso gastar todas as antigas, ou paro. Preciso ler ...