Bati uma foto muito estranha. Bati várias dela, na verdade. Todas com um olhar meio opaco, uma boca meio frouxa, no que parecia ser um ensaio de sorriso. Eu vinha fotografando bastante, numa tentativa inútil de descobrir mais sobre mim. Não descobri nada de novo, na verdade. Só me lembrei do que eu já fui. Me lembrei de como eu era contente antes, e de como meu sorriso era um sorriso digno, de como meu cabelo era um cabelo digno, e por aí vai. Tudo tão indigno de foto agora. Digno de lixeira, só. E foi isso que aconteceu, deletei tudo, passei tudo pra lixeira do computador, e até mesmo ela acabou indignada, gritando: "êpa! Não vai esvaziar?". Atendendo aos apelos, esvaziei. Deixei tudo limpo, tão vazio quanto o meu olhar naquela foto estranha. E horrorosa, diga-se de passagem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Como uma tecnologia muito avançada, eu silenciei. Esqueci que para ter novas palavras preciso gastar todas as antigas, ou paro. Preciso ler ...