É impossível não pensar em nós dois. Tento manter minha cabeça vazia, pensamento longe, mas sempre aparece você pra me aplacar com uma mensagem, um telefonema. Chuta bem nos meus joelhos e me faz cair aos seus pés. E aí vem aquela onda recheada de um desejo louco de te ter ao meu lado. Ao lado, assim, de lado nem que seja na casa vizinha, para que eu possa te olhar um pouco, da minha janela ou da sua porta. Logo se torna um desejo imenso, parecido com um tsunami, que me devasta e arrasta tudo de dentro pra pertinho de você. Pertinho na sua cama. Pertinho na palma da sua mão. Pertinho andando pela sua boca e querendo ouvir uma respiração baixa, uma risada engraçada. Pertinho pra ver todos os seus defeitos, que se tornam tão toleráveis, por que são seus. E depois, a onda se desfaz, vira espuma. Por que eu estava longe da sua casa, da sua palma, tentando conjugar os verbos na primeira pessoa do plural. O "Nós" era pronome imaginário, e minha realidade era singular. Em todos os sentidos da palavra. "Adj. Individual, único, isolado". Odiável.
As nuvens pesadas vagavam pelo céu. Não me lembro de ter antes desejado tanto que uma chuva caísse na minha cabeça. Que qualquer coisa caísse na minha cabeça. O objetivo era amnésia: Queria poder esquecer de você com uma pancada. Ou uma lavagem - que a chuva caísse e me deixasse pura, num estado menos complexo, transparente. Tudo aquilo que estava ali, deixando o meu interior turvo e lamacento, ainda não tinha nome. Só apelido. E esse, pouco carinhoso, foi dado em um momento de profunda raiva e frustração: "essa merda toda". Era assim que eu costumava chamá-lo, era assim que eu pretendia apresentá-lo a você. "Essa merda toda me incomoda! Porque você não a leva embora? Porque você não tenta me ajudar a procurar uma solução? Porque você só não fica aqui, e me vê procurando uma solução, enquanto eu pego na sua mão? Enquanto eu olho pra você. Já me parece tão melhor, com você aqui". Esse era o meu discurso. Ele estava incluso no "essa merda toda" só pelo fato de ser realmente uma merda. Eu não me lembro de jamais ter respirado tão fundo assim... Nem de desejar tanto uma pancada na cabeça.



i think you're just so pleasant, i'd like you for my own!
why don't you sit right down and make me smile?
you make me feel like i am just a child.
(She and Him)
Palavras machucam tanto quanto a ausência delas.

Como uma tecnologia muito avançada, eu silenciei. Esqueci que para ter novas palavras preciso gastar todas as antigas, ou paro. Preciso ler ...