Você tinha essa inconstância estúpida de gente que não sabe o que quer. Você era dono dessas palavras que prendiam, fingiam, encantavam, e ficavam lá. Só ficavam palavras... e eu. Sempre de braços abertos, esperando que você voltasse. Sempre alimentando a esperança de que você fosse mudar, e talvez, essa noite, só essa, entre tantas, você resolvesse ficar de vez.
"Não foi só ontem, é hoje e depois."
Era uma prece.
E ela dizia: "Me traz de volta o que eu perdi. Me dá mais uma chance de cuidar..."
E talvez nunca nenhuma outra prece estivesse sendo pedida assim, assim tão cheia de desejo. Cada palavra se acomodou na alma, arranjou espaço que não doía ainda só pra machucar mais.
Eu costumava dormir sem rezar.
Mas ali, havia uma prece.
E ela dizia: "Me traz de volta o que eu perdi. Me dá mais uma chance de cuidar de nós mais uma vez."
Ah, não, para com isso. Não começa com essa história de que a vida é melhor do que ela é vista por mim, assim, desse jeito morno e cinza. Tá, ela pode ser melhor, mas eu não sou. Não consigo dar update nos filtros dos meus olhos, pensamentos, críticas. Não começa dizendo que eu preciso de um choque de realidade, preciso saber como o ruim é ruim mesmo, e não é o ruim que eu penso que é. Não vem me dizer que tem gente pior, que tem gente com fome, que tem gente na miséria. Eu sei disso! E eu sinto muito. Sinto muito pela miséria deles e pela tua miséria de alma, por andar sempre com um discurso politicamente correto escrito em fichas, dentro do teu bolso. Não começa com isso outra vez, não vai ter arco-íris depois de tempestade nenhuma. Não vai amanhecer. Não vai parar de chover. Eu tô bem, acomodada nessa vida cheia de mofo, mas macia. Não tente melhorar o que não tá ao teu alcance. Me larga, vai.

Vai embora.

Como uma tecnologia muito avançada, eu silenciei. Esqueci que para ter novas palavras preciso gastar todas as antigas, ou paro. Preciso ler ...