esse mês agora contabiliza um total de onze no ano inteiro e eu nasci de novo por mais um ano. Ou morri mais um ano pro resto da minha vida. Confesso toda hora várias confissões que não deveriam ser paridas nesse planeta e todas elas são dolorosas como um parto natural sem amparo. Eu me perco cuidando de todos os nascidos de mim, que não quero ser mãe, mas crio e alimento pra me devorarem pela noite também, quando eu não enxergo nada. A comida nunca é suficiente. O pensamento intencional alimenta a paranoia, mas ela só cresce mesmo quando não existe luz, como as plantas que crescem à noite com o que absorveram de dia. Eu não sei se é verdade, mas poderia ser. É muito fácil enganar os outros e a si mesmo, basta um ar de confiança e acidez na fala como se fosse o fato. O mundo é a junção de fatos, diria Wittgenstein, mas ele anulou toda sua grande obra filosófica sobre a linguagem ao publicar a segunda. O mundo já não é mais nada depois de um segundo pensamento sobre. Eu não publiquei nada. Não pretendo perpetuar uma perturbação sem sentido e nem seria capaz, pra permanecer vivo aqui é necessário paranoia e dinheiro, sobretudo dinheiro. Eu só tenho uma paranoia enjaulada cuidada como um gato selvagem domesticado que transpassa as barras de metal durante a madrugada e fala comigo enquanto eu tento fechar todos os pensamentos e ouvidos e olhos e toques nas pontas dos dedos e o tecido se enrolando nos meus braços e pernas e pescoço e cabelo fazendo um ruido ruido ruido ruido ruido como uma televisão sem antena. Talvez eles vejam isso através da tela, como ela me hipnotiza. O ruído de todo o espaço sideral cinza no monitor bem a frente do meu rosto e do meu resto, no fundo da cabeça. Infelizmente esse mês é novembro e eu não tenho coragem de partir, como disse que iria a três anos atrás, nos anos redondos dos vinte e cinco. Toda hora passa o momento certo e nada é certo mas eu espero que seja em algum momento.
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