Como uma tecnologia muito avançada, eu silenciei. Esqueci que para ter novas palavras preciso gastar todas as antigas, ou paro. Preciso ler novamente o dicionário como fazia 20 anos atrás, empolgada com a capa verde falsa feita por proteção, preservar o externo mesmo que todas as páginas amarelassem por dentro. Apesar de ser um reflexo do que é inteligente e artificial, silenciado não vou para lugar nenhum, porque não são números e fluxos que abrigo. Apesar de tentar mimetizar a automatização, não sou um dróide e nem preciso Voight-Kampff para testagem: me veja tomando um copo de cachaça e o sangue extravasa para ser ingerido de novo. A pele rasga com muita facilidade. Preciso me olhar no espelho e ter outras palavras na ponta da língua, mudar tudo e mais uma vez. Tudo que outra hora era sem precisão, suspenso no ar a espera de uma deliberação, foi finalmente deliberado: agora eu a tenho de volta e ela me ama, ama sua casa, ama sua cama e ama a ele também. A comunicação não verbal e feita exclusivamente por atos de dedicação tem uma nova roupagem, porque eu não enlouqueci no caminho. Eu consegui permanecer, no limiar da autodestruição e no isolamento, como um gato prestes a morrer, escondendo seu próprio cadáver do predador, como se houvesse esperança de o tempo lhe retornar a vida. Mas eu não sou gato, como não sou dróide, e voltei. Mas preciso ir embora de novo. Cronicamente, ele irá e irá e irá, até deixar de ser quem é pra ser outra palavra em outro passo.
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