Eu me peguei parada, olhando pro céu, com a boca aberta. Contando estrelas, na verdade. Fazia tempo que eu não contava as estrelas, por dois grandes motivos: o primeiro, era que minha mãe sempre me dizia que "o número de estrelas que você conta é igual ao número de anos que você viverá", e eu morria de medo dessa pequena praga-de-mãe; segundo, porque meu pescoço sempre ficava doído. O chão era sujo demais para me dedicar a esse passatempo. Mas confesso que sempre o fazia quando algo estava errado demais para contar para alguém. Eu contava as estrelas para contar a elas sobre mim. "Olá, você é a primeira. Como anda sua vida? Parada? Já sei, sua vida anda brilhosa. É, a minha está terrível. Olá segunda, irei te chamar de Cleide. Combina com sua pele." Uma merda. E eu me peguei, naquela noite, depois daquele dia, onde o sol raiou - um dia qualquer - olhando para o céu. Tentando contar coisas para pontos de luz que conseguem ver toda a minha peça teatral chamada "Vida - a saga de um humano comumente idiota" do camarote vip. De graça, ainda mais. Talvez rindo de mim, e sempre me mostrando do melhor modo possível, o quanto elas eram tão melhores do que eu. Bonitas e inalcansáveis, não-machucáveis. Perfeitas. Dignas de uma premiação Nobel de qualquer coisa nobre que possa existir. Melhor, dignas da apreciação de qualquer um pelo seu caráter, porque sua perfeição atravessava as barreiras físicas: elas eram eternamente pacientes com qualquer um que precisasse. Bastava ter um tempo para perder seu tempo e se perder em conversas perdidas na escuridão.

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