Sobre o perigo de uma oralidade (bem) mal intencionada, porém permitida

Te vi descendo
Como quem desce por querer
Queimando com os olhos
O pouco que restava da minha consciência.
Te vi matando
Um lobo com os dentes
Dentes frios em pele quente
Quase um beijo macio
Num gesto fino
De quem sabe o que fazer
Te vi afiando
Uma defesa satisfatória
Contra um juri lesado
Cheio de julgadores comprados
Por meia pá dos seus olhares
Que queimaram
O pouco que restava de suas consciências
E esqueceram da decência
Quando seus lábios tocaram os meus
outra vez.

Não "perguntei-me": me perguntei. No errado mesmo, porque o errado é sempre mais bonito e mais comum. Sou popular, sou daqui do meio, no meio de um monte de cara pintada não me destaco por nada. Me perguntei mesmo, e vinha me perguntando em todo início de frase com pronome pra saber que a dúvida era minha mesmo. Legitimamente, era minha. E não esperava que ninguém me desse uma resposta justa, ou adequada, ou inadaqueda. A resposta era inexistente em qualquer outra boca - agora sim, eu me destacava, mas só por dentro, me destacava em mim mesma. Válido. Mas não tanto: e se eu tinha dúvida, e só eu tinha resposta, mas essa resposta não era minha, onde iria me abrigar de tanta confusão? Era assim que eu andava: cheia de perguntas sem respostas, de carinho sem casa, de papel sem caneta pra escrever sobre o passado e o futuro. O presente tava bom. Mas e daqui pra frente? 

eis a questão.

mensalidade

Você que vive mendigando mês
não sabe como a vida se faz
e esqueceu de viver lá trás
quando o mês passou
Você que pediu pra outubro ser doce
novembro ser florido
pra não morrer em dezembro
e janeiro, colorido
Não sabe o que é viver de dia
E vive na euforia
Do viver do futuro
que não cabe nem na palma do vidente
imagine na suas preces (e pressas)
pra que o mês que venha
não seja tão indecente
quanto toda a sua vida
mendiga
de mês.

Como uma tecnologia muito avançada, eu silenciei. Esqueci que para ter novas palavras preciso gastar todas as antigas, ou paro. Preciso ler ...