Em mim
são incontáveis as suas maneiras
e me idolatro em dizer
que sou você do avesso.
Em mim
não há nada que não vejo
qualquer pouco de você
em minhas arestas, curvas ou maestria
em dizer-te que te amo mais do que deveria.
Em mim
mal cabe a tristeza
quando se faz presente
uma possibilidade em que haja vida
enquanto você se faz ausente,
por que, em mim
não há mais nada solitário
independente
meu ou único
não há nada que não seja mútuo
e não há nada que não seja seu.
Esqueci-me há muito de como é viver só. Um dia andando pela rua, tropecei em alguém e caí de cara no chão. Nesse meio tempo, espaço entre o meu rosto e o asfalto quente, mil coisas me passaram pela cabeça. Que eu não podia encontrar pessoas desse tipo, que me derrubam, na rua, desprevenida. Que eu não podia compactuar com os acasos e acreditar que aquilo era plenamente normal. Que eu podia compactuar, sim. Que a vida é engraçada e o tombo de início parece viagem louca e diferente, mas é dor pura e machuca mais do que se imagina depois que o corte se abre na carne quente de ansiedade. E quando já no chão, pensei em tantas coisas que já nem podia me ver só sem ter ninguém pra me derrubar. Não qualquer alguém, mas justo alguém que me derrubou. Cair tornou-se, então, o fato mais extraordinário da minha vida.
Foi justamente quando perdi toda a elegância que sustentava o meu queixo no alto, minha pose de loba solitária solta pronta pra pular sobre qualquer obstáculo com destreza incrível e inacreditável.
Foi aí que eu me perdi.
Acabou-se mundo quando deitei-me no chão. Acabou minha vida. Vergonha de que, logo eu, eu tão distante do mundo e de possibilidade de ser tocada justamente nos lugares certos, fui tocada no lugar certo. Logo eu, chutada nos joelhos.
Demorei pra levantar.
Fui parar no hospital. Disseram "dois ossos quebrados".
Mas como é diferente essa vida que existe na minha alma e na dos outros, que regenera sem qualidade ou rapidez, mas regenera. E regenerei. Saí do coma, da cama, me convenci de que eu não estava só, mas que qualquer pessoa podia me derrubar. Qualquer um agora era sábio o suficiente para saber que eu era a menina dos joelhos fracos.
Todo contato que se fez, a partir de então, tornou-se ameaçador.
Aconteceu que o último suposto monstro que me apareceu não era monstro. Era um amor.
Sabia do meu ponto fraco mas não ousou chutá-lo. Mesmo assim, permaneci distante. Alojou-se, com permissão, entre meu ventre e os meus braços. Me mostrou seus pontos, pequenos sinais que juntos formavam constelações já descobertas antes, mas não em corpos humanos como o que eu tinha a possibilidade de ver. Julguei-o celestial.
Aqui, digo: esse foi o fim total da minha elegância.
Justifica-se aqui, para quem conhece minha situação atual, tudo. Aconteceu que um dia esparramei-me no chão e nos pés que nem geleca de criança na mão do tal senhor constelação. Isso tornou-me tão deselegante quanto quando tombada, hospitalizada e fraturada. Mas isso não retira toda minha vivacidade e cor, nem maciez ou vontade própria. Sou uma geleca autônoma. Sem classe, mas autônoma.
E apaixonada.
Obrigada.
você é poesia com cpf
e desfila suas rimas
como modelos desfilam suas fantasias
mais íntimas em um grandioso evento imaginário
e eu te leio de cimaabaixo
de forapradentro
e te rapto e alicio
e te tatuo como já fiz com Leminski
(mas não só no braço)
e te releio e refaço
e repito
pra ter a certeza completa
de que você, a poesia mais bela que já tive a grande sorte de entender
pode ser minha
ao mesmo tempo que me transmuto em poeta
pra só a você pertencer.
porque agora eu já posso chorar a noite toda com algum motivo razoável
mesmo sem querer que exista algum.
Mas você volta e me surpreende novamente e me redime de todos os meus pecados porque eu sei que todos os meus erros são graves quando são feitos em sua presença.
Os seres celestiais (como você) não admitem esse tipo de coisa.
Mas eles voltam pra dizer que te amam além do seu merecimento conhecido, e querem dormir a noite toda ao seu lado.
Como você me leva ao paraíso tão rápido?
Tão só sou
neste mundo de enormes expectativas
que me falta maestria
na hora de descrever a devasta
e -como se parece- longa
vida de quem não é nada
nem de ninguém.
Sozinho tão só,
tão pequeno e só,
que nem mesmo dó me tem
qualquer um ou eu mesmo
e me perco por todos os becos frios
dentro de mim.
Sou um labirinto hostil
ou um fundo de uma cratera
vazia calma escura e silenciosa
esperando para ver o fim que também me espera.
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