A cena é uma mentira.
Claro que eu imaginava mil coisas doentias sobre futuros e possibilidades. E é claro que você sempre estava lá. Não como sombra.
A cena é uma mentira, mas é belíssima. Como aqueles vôos sincronizados de pássaros que só se vê na televisão ou naquelas fotos de paisagem a la Windows.
Toda aquela baboseira sobre ser satélite, sobre o movimento que um faz envolve o outro: é verdade. Mas não deixa de ser baboseira. É uma baboseira gostosa, mas verdadeira. E era essa a minha realidade. Não que eu fosse um mundo inteiro cheio de mistérios. Eu estava mais pro satélite. A lua. A pedra que reflete a cor de outros, que gira em torno de outros e finge ser bela. Essa sou eu. Você é a parte interessante.
(o que faz que a baboseira sobre satélites seja toda minha, pensando bem.)
Às vezes tenho medo sobre essa história de ser unilateral.
Você já me jurou amor tantas vezes. Mas isso não me tira do papel de Lua.
De qualquer forma, independente de quem eu fosse, a cena era uma mentira criada por uma cabeça cheia de esperanças. E nela, eu dançava no quarto, nua, com você deitado na cama, rindo. Cliché.
Mas as cores que refletem, elas são incríveis. Lembra um pouco de uma das casas que morei em uma das cidades que morei. Essa casa era feita quase que inteiramente de madeira e justo a madeira das janelas era envernizada. Quando estava perto do sol ir embora (ou nascer, às vezes), eu corria e abria todas as janelas e deitava no chão, só pra ver o reflexo. Só pra ver uma cor quente se derreter por todo o quarto e minha pele. Como se eu fizesse parte do mundo. Como se eu não fosse uma Lua.
Essa era a cor da cena. Era quente.
Tão quente quanto um coração aflito e esperançoso.
Mas aí tudo se esvaía como se esvai na realidade. O sol vai embora e tudo fica frio e escuro. Alguns dias a lua reflete, outros não. Como eu.
A cena era uma mentira, mas eu desejava que se tornasse verdade, quem sabe. Não é como se um satélite soubesse se virar por aí, entende? Não é como se eu soubesse ser lua sozinha. Lua sozinha não é lua. Na verdade, não é nada. É pedra no espaço, é só qualquer coisa sem qualquer significado.
Provavelmente o que eu me tornaria quando fosse embora. Você me disse hoje que não é nada pra ninguém. Mas isso não é verdade. Só é verdade pra mim, quando eu virar memória.
De qualquer forma, se eu for, não me deixa virar memória.
Queria te amar por tempos infinitos.
Então vê se me guarda direito.
Que nem aquele pedaço da Lua que trouxeram quando pisaram lá.
Ou finge. E me desculpa.
Acho que tudo é baboseira. Mas é verdade.
Menos a cena. Essa eu inventei.

Um comentário:

  1. A cena é mentira, mas é uma mentira que na nossa cabeça tentamos realizar. Que o nosso coração anseia em ter, mesmo que seja mentira.
    Cara, que saudades que eu tava de te ler.
    Cada parágrafo, cada palavra, cada letra num encaixe perfeito.
    Apareça mais vezes. Bjão ;*

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 é agora viu é agora você vai ter que escolher e dar esse passo gigantesco que é o futuro se afunilando e abrindo ao mesmo tempo mas o mal e...