Toda vez que eu desço ao fundo do poço, algumas pragas grudam em mim como sanguessugas. Eu me vejo doente, como antes, a mesma doença de sempre, com os mesmos sintomas. Como se o meu corpo não produzisse anticorpos psicológicos. Vejo que aos 20 cometo os erros dos 15 e me guardo, feito tatu bola, em mim mesma. Esperando que passe. Esperando que eu mude. Esperando para que eu possa subir e me abrir novamente.
Esses tempos são tão cansativos que por um fio, um milésimo de segundo, essas pragas não me levam à óbito. Meu corpo perece como uma fruta podre e dessa fruta retorna - mas não como um renascer. Eu não renovo. O corpo continua podre e tenta rejuvenescer, como em um milagre de volta ao tempo, mas não consegue. Sobrevive. Sempre sobrevida.
As idas ao centro da terra mantém um padrão de tempo: seis em seis meses, talvez. Uma aventura para me abalar as estruturas. Quando de volta à vida vejo o real perigo, porém no cesto torno-me cega e surda. A analogia usada poderia ser até outra: afundada no mar. Calmo. Sereno. Escuro, vazio, quieto, amplo. Há tantas características que podem ser atribuídas às minhas tristezas que dariam um dicionário. Ainda assim, existe uma que se sobressai, ressalta por seu caráter sinestésico: minha tristeza é azul. Tão azul que posso senti-la na ponta da minha língua, no fundo dos meus olhos ou se espalhando na superfície da minha cabeça, como um manto. Uma armadilha. Uma jaula. É sempre um desafio desvencilhar-me dela, sempre aumentando o nível de dificuldade. E daqui mesmo, do início (ou mais) posso ver que o futuro segue nessa linha reta até o ponto onde o mundo se torna oco e acaba. Não é tão longe.
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Ler essa tristeza que parece com a minha me conforta, não sei pq, mas me conforta.
ResponderExcluirMe vejo em tuas palavras, deve ser isso, quando eu te leio eu consigo encontrar um rumo, ou consigo encontrar um lugar pra me guardar (igual o tatu bola), só pra pensar em como eu posso resolver minhas tristezas.
obrigada por isso também!