Não sei como é que vai acontecer.
Tem dia que o sol brilha forte e queima a nuca como se fosse um castigo. Tem dia que o sol se esconde nas cobertas e acabou-se.
Mas tem dia que o sol faz média. Brilha na hora do almoço mas logo se recolhe, como quem já se cansou. Como quem diz "eu não aguento mais brilhar pra vocês".
Quando eu era criança nada me abalava. Eu ia e pronto. Ia com gente que eu nem conhecia, ia rindo e o que ficasse pra trás, mãe, pai ou polly, ficou. Brilhava forte para os outros como se fosse um castigo, com um riso maldito de criança que se deixa ir, que não tem amarra, que não dá pra chantagear.
Quando eu era adolescente, eu me escondia debaixo das cobertas. Descobri em mim várias caixas de Pandora. Sentimentos que me transbordaram até o fundo do estômago e eu nem sabia pra onde ir (mas mesmo assim, continuei indo). Nunca vomitei. Mesmo cheia o bastante pra explodir, eu nunca vomitei.
Agora eu faço a média. Talvez a faça porque sei que falta pouco, tão pouco, que esse sentimento me trança os cabelos como uma mãe carinhosa, calmamente, zelando. O sol brilha pra mim tão alto e tão quente como quem me lembra do que tenho que fazer. Recolhe-se rapidamente lembrando de como é. Como se cada palavra fosse uma palavra de adeus.
Não sei como é que vai acontecer.
Talvez seja amanhã. Ou depois.
Talvez seja o medo me castigando de dentro pra fora.
Não quero magoar ninguém. Mas por um momento, pense só que talvez se libertar não seja retroceder. 

Um comentário:

Como uma tecnologia muito avançada, eu silenciei. Esqueci que para ter novas palavras preciso gastar todas as antigas, ou paro. Preciso ler ...