Sou eu ao teus pés derramado.
Falo a mim mesma no espelho, com os olhos abertos, atentos para não perder um movimento. Não me movo. Espero para visualizar todas as que vieram até então, mas é imaterial. Não há luz que possa ser refletida, nem mesma a da razão: então porque espero? A resposta alta, momento de autonomia da própria imagem, que não é nada, só reflexo, e só cabe a mim mesma movimentar os lábios e mãos até alcançar a resposta. E eu não consigo, dentro da imaterialidade ainda existe o peso, a gravidade, tudo que se apoia nos ombros e oprime e arrasta meu rosto no chão, imobiliza e cala. São tantas que vieram e se formaram até aqui e permanecem em silêncio mas pulsam, pulsam. Sim, sou eu, ao meus pés, derramada. Pouco resta do que fui. 
Cabe a mim se serei boa ou ruim.





Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui
P. Leminski

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