tudo tem essa cor morna quando o dia passa debaixo d'água.

gosto de chá agora. gosto porque sinto o mundo dentro de mim e o afogamento passa desapercebido quando a água quente enche o peito. o gelo me tortura.

olho pras páginas anteriores e penso como é bonito o sentir da juventude e como todo o barulho torna-se (rápida e inesperadamente) o silencio mais denso e jamais imaginado. havia uma grande latência no sentir, o sentimento que podia se alojar todo no fundo da garganta e formigar pela pele. tudo era tato. tudo.

e como tudo isso se torna vago na adultização. e como os neologismos se tornam tolos. e tudo que ultrapassa da fala pro corpo é cansativo demais pra ser realizado. e todo o mundo cabe numa xícara antes de sair, entre os intervalos de uma admissão assalariada sufocante, e no grande final exaustivo do dia. e os finais são sempre muito mais ansiados que os inícios.

termina-se tudo com um grande suspiro. antes, iniciava-se. o suspiro era uma fantasia. o suspiro é, agora, um intervalo respiratório um pouco mais extenso que o aceitável e cabível pela diretoria. uma pausa forçada. um socorro assobiado.

tudo tem essa cor morna quando o dia passa debaixo d'água e todos os dias são afogamentos silenciosos do corpo e de tudo o que tem dentro, até o ultimo espaço onde a alma habita. por dinheiro. 

e nós nunca, nunca, nunca, nunca, nunca, seremos plenamente deixados em paz.


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